Deslembrar...

Caro papel, estive por tanto tempo fora. Tanto tempo que, por alguma razão esqueci como escrever e sobre o que escrever. E certamente deixarei lacunas nessa história. Deslembrar pode ser isso.

Li um livro com esse título há algum tempo. E depois de tantos dias sem conseguir escrever sequer uma linha, esse título veio forte a mente. Deslembrar... Pensei em tudo aquilo que lembro ter ocorrido em minha vida e daquilo de que não lembro mais, como memória seletiva. E pensei: por que lembrar e esquecer?

As lembranças construídas são sempre partes de algo que nos toca. São momentos, pensamentos, sentidos e sensações. Uma viagem, um cheiro, uma risada, um desejo, uma pessoa, e assim criamos nossas memórias. E por que esquecemos em certa medida de lembrar? E porque tem coisas que nos lembramos de esquecer?

Lembrei um dia desses de estar passeando pela rua e sentir um cheiro agradável. Um cheiro que imediatamente me remeteu a uma passagem de vida. Um cheiro que me levou a uma lembrança de felicidade. E na mesma hora sorri, sorri exatamente às quatro e onze da tarde passando pelo relógio da Central do Brasil.

Ainda há muito que lembrar e situações a esquecer. Que ao futuro eu dê o espaço vazio para as novas memórias, e ao passado lembrar daquilo que for capaz de contar uma estória. Uma estória de um momento que valerá a pena não deslembrar.